Durante anos, os computadores foram os principais alvos de cibercriminosos interessados em roubar dados de contas bancárias e cartões de crédito. O campo é vasto: segundo a empresa de pesquisa Gartner existem em torno de 1,5 bilhão de computadores em uso no mundo e esse número pode chegar a 2 bilhões até 2014. O sistema operacional mais atacado é o Windows, da Microsoft, que tem uma participação de mais de 90% no mercado de PCs.

Esse cenário, porém, está mudando. Até pouco tempo atrás, os smartphones pareciam ilesos às ameaças virtuais, devido ao número relativamente reduzido de aparelhos em uso e à multiplicidade de sistemas operacionais existentes, entre eles Symbian (da Nokia), Android (Google), iOS (Apple), BlackBerry OS (da Research in Motion, RIM) e Windows Phone (Microsoft).

Agora, com o crescimento acelerado desse mercado e a concentração das vendas em menos sistemas, está atraindo a atenção de cibercriminosos e seu arsenal de vírus e golpes. A estimativa é de que há hoje 800 milhões de smartphones ativos no mundo – a maioria deles com o sistema operacional do Google, que passou a liderar o mercado, com 52,5% das vendas globais, segundo o Gartner.

A empresa de software antivírus AVG Brasil estima que em 2011 o número de ameaças a smartphones tenha aumentado 270%, chegando a 2,5 milhões de malwares – softwares desenvolvidos para tentar roubar dados. “O número absoluto é pequeno em comparação com o total de vírus para computadores, mas o crescimento é exponencial”, afirma Mariano Sumrell, gerente de marketing da AVG.
A Symantec, outra empresa de especializada, estima que enquanto as ameaças para computadores cresceram 93% no ano passado, para 286 milhões, no caso dos smartphones o volume pelo menos triplicou. Dados detalhados não estão disponíveis.

Nos smartphones, o sistema operacional que requer mais cuidados é o Android. A McAfee, de segurança digital, estima que o número de ameaças ao sistema aumentou 230% no ano passado. “Essa plataforma ganhou mercado muito rápido e sempre que um produto ganha a preferência do usuário, torna-se alvo dos cibercriminosos”, afirma José Roberto Antunes, gerente de engenharia de sistemas da McAfee.

A principal tática dos cibercriminosos é oferecer aplicativos mal-intencionados em lojas on-line de aplicativos, como a loja Android Market. Os programas ficam escondidos em supostas versões gratuitas de aplicativos populares como o jogo “Angry Birds”.

De acordo com as empresas de segurança, não há números específicos sobre o mercado brasileiro. Os programas são desenvolvidos para atacar um sistema operacional independentemente do lugar onde está o usuário e circulam facilmente na internet, o que acaba tendo um impacto semelhante em muitos países, dizem especialistas. “O Brasil não destoa da tendência mundial. As ameaças crescem na mesma proporção”, diz Paulo Vendramini, diretor comercial da Symantec.

Por enquanto, o país ainda não figura entre os principais focos de criação de ameaças virtuais para smartphones e tablets, afirma Fábio Assolini, analista da empresa de antivírus Kaspersky.

Alguns fatores, no entanto, estão criando um cenário propício para o crescimento das ameaças móveis no país, como a rápida ampliação da base de dispositivos móveis. “Além disso, vários bancos já oferecem aplicativos móveis para transações. É natural que os criminosos comecem a reforçar seu interesse pela mobilidade”, diz Assolini.

A crescente adoção de dispositivos pessoais para fins profissionais é outro fator que eleva os riscos de segurança, alertam as empresas de antivírus. Quando está em casa, não é incomum que um executivo deixe o filho disputar um jogo ou navegar na internet no aparelho utilizado para o trabalho. “O grande desafio para as empresas é trabalhar com um ambiente heterogêneo”, diz Hernan Armbruster, diretor de novas tecnologias da Trend Micro para a América Latina.

Há dez anos, a área de tecnologia de uma empresa gerenciava um computador por usuário, em média. Atualmente, as áreas de TI precisam administrar computadores de mesa, notebooks, tablets e smartphones, com diferentes marcas e sistemas operacionais – o que torna a gestão de segurança mais complexa.

Para as empresas que tentam administrar essa diversidade de aparelhos, o ataque por vírus – que chega por e-mail ou no acesso à internet – é considerada uma das principais ameaças. Mas não é a única. Ascold Szymanskyj, vice-presidente de vendas e operações da F-Secure para a América Latina, afirma que há outras formas de um cibercriminoso roubar dados de um usuário de smartphone.

Um dos golpes que estão se tornando comuns ocorre em aeroportos e outros locais públicos. O criminoso aproxima-se de um usuário que esteja usando um smartphone conectado à rede de terceira geração (3G). De maneira imperceptível, ele usa seu próprio aparelho para invadir o smartphone da vítima e abrir ‘uma porta’ que facilita obter acesso aos dados remotamente. “É preciso ter um conceito de proteção plena, que contemple desde os ataques via web até fatores como a perda ou o roubo dos dispositivos”, diz Szymanskyj.

Os fabricantes de software de segurança vêm apostando na oferta de pacotes que incluem antivírus e aplicativos que permitem acionar remotamente o aparelho e apagar os dados da empresa (em caso de perda ou roubo). Outros programas permitem bloquear a transferência de arquivos da companhia de um aparelho para outro ou impedem o download de jogos.
Fonte: Valor

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