Uma vaga de garagem em condomínio da Zona Sul está regulando com o salário mínimo (atualmente R$ 622), e pode até ultrapassar este valor, em bairros como Leblon, Ipanema e Copacabana. É o que relatam corretores, proprietários e inquilinos dos espaços. Mas, se o aluguel já é caro, com a nova lei que impede a compra e o aluguel de vagas de garagem por pessoas estranhas ao condomínio — que entra em vigor em maio — o que já era difícil se tornará mais raro. Por isso, locatários temem que os valores aumentem ainda mais.
— Em cinco meses, quem paga por uma vaga poderá ter que desembolsar de 20% a 40% a mais. É a lei da oferta e da procura — diz o corretor Sérgio Fernandes.
É justamente isso que tanto preocupa quem precisa alugar o espaço, que não sai por menos de R$ 100 (valor cobrado em prédios antigos da Zona Norte). Em Laranjeiras, uma vaga custa em torno de R$ 200. A jornalista Carla Domingues está “na fila” por um cantinho na garagem de seu próprio prédio e torce para que o mercado não fique inflacionado.
— Descobri que meu prédio é o único residencial nas redondezas que aluga para estranhos. Todas as vagas estão alugadas, e eu queria uma daqui justamente porque o valor seria mais baixo que os R$ 360 que pago por mês de estacionamento rotativo — conta ela. — Espero pelo menos que, com a nova lei, parem de alugar para estranhos.
Moradora de Ipanema, a pedagoga Elisabeth Marques acredita ser “descabido” pagar um salário-mínimo para usar este tipo de espaço. Atualmente, conta, ela mora num apartamento com vaga, mas comenta que seu filho alugava um box de garagem no bairro por R$ 500, no fim do ano passado:
— Acho um absurdo uma vaga de garagem sair por esse valor. A vida já está bastante difícil para a classe média. Um salário-mínimo não é pouca coisa.
Longe de cobrar tal quantia, a psicóloga Monica Madasi, que é proprietária de um apartamento na Rua Marechal Ramon Castilla, em Botafogo, pretende aumentar os R$ 200 que cobra por seu espaço na garagem do prédio. Ela aluga para um inquilino do próprio condomínio, pois acha mais seguro.
— Já sabia que o valor estava defasado, mas agora vejo que está muito barato mesmo. Não está justo para mim. O rotativo em frente ao meu prédio cobra mais de R$ 300 por mês e sem a comodidade que a pessoa teria aqui no próprio condomínio.
Para o advogado Hamilton Quirino, que, três anos atrás, já pagava R$ 250 por uma vaga de garagem num prédio em Copacabana, a tendência é o valor aumentar. Não só devido à nova lei: já havia, antes, um movimento dos condomínios de proibir, nas convenções, o aluguel e a venda das vagas para estranhos, por causa de problemas com segurança. Isso, segundo ele, restringiu a oferta, enquanto a demanda não parou de aumentar.
— Hoje está muito mais difícil achar vaga, vai virar quase um mercado negro. Me mudei para um prédio com duas vagas de garagem, e não preciso mais fazer esta busca — diz Quirino, que ainda mora em Copacabana. — Basta ver a quantidade de carros estacionados nas ruas de Ipanema e Copacabana para saber que a procura só vai aumentar.
Fonte: O Globo