A explosão do uso dos aparelhos celulares, cada vez mais sofisticados e com novos recursos, tem reforçado o faturamento das operadoras no Brasil. Mas essa demanda crescente também tem um efeito colateral: com uma base de clientes cada vez maior e o uso da rede amplificado por serviços de transmissão de música e vídeos, as teles têm de ampliar rapidamente sua infraestrutura, sob o risco de deixar o cliente na mão. Quem já não se viu com o celular em punho andando de um lado para o outro, em busca do sinal?
Agora, um aparelho discreto, do tamanho de um roteador, pode tornar-se uma solução temporária para o problema que aflige tanto as teles quanto os consumidores. De nome estranho – femtocell – o dispositivo capta o sinal falho na rede de telefonia móvel e o redireciona para a rede de banda larga fixa existente na casa ou no escritório do usuário. Na prática, passa a funcionar como uma espécie de Wi-Fi, com a vantagem de proporcionar chamadas de voz, além de dados, o que não é possível nas redes Wi-Fi propriamente ditas.
A expectativa é que a femtocell esteja disponível no país em meados de novembro, mas seu uso ainda depende de regulamentação pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
O desvio de rota proporcionado pelo dispositivo ajuda a desafogar as redes das operadoras móveis, sobretudo as de terceira geração (3G). “Mais e mais usuários trafegam na internet de casa e do escritório. É justamente em ambientes fechados que o sinal é mais fraco”, disse ao Valor Roberto Falsarella, responsável pelas redes móveis da fabricante de equipamentos de comunicação Alcatel-Lucent no Brasil.
De acordo com o executivo, a principal vantagem da femtocell para as operadoras é o custo: enquanto construir uma antena de celular pode chegar a R$ 500 mil, a aquisição de uma “femto” custa menos de R$ 1 mil. A fabricante tem, entre seus maiores clientes, a inglesa Vodafone.
No exterior, a femtocell é relativamente nova. Faz cerca de dois anos que as empresas passaram a usar o aparelho em larga escala, principalmente nos Estados Unidos e na Inglaterra. Estima-se que há cerca de 3,5 milhões desses equipamentos no planeta, de acordo com a Alcatel-Lucent.
Para se ter uma ideia do potencial previsto pelas empresas, uma pesquisa da consultoria ABI Research, divulgada ontem, mostra que, para 2017, a expectativa é que as femtocells movimentem US$ 14,3 bilhões em vendas.
Apesar das projeções, a eficácia do aparelho não é uma unanimidade entre as teles e os fabricantes de equipamentos.
Ronaldo Yanada, responsável pelo desenvolvimento das femtocells na NEC, outra fabricante de equipamentos de rede, ressalta que os dispositivos não dispensam a construção de antenas por parte das teles. “O gargalo é sempre a infraestrutura de rede, por isso as empresas têm de trabalhar com ambas as soluções”, disse.
Para a chinesa Huawei e a sueca Ericsson o equipamento não vai atrair a atenção do consumidor na escala necessária para uma ampla adoção do dispositivo. A Ericsson não produz as femtocells. “Ainda não há um padrão mundial capaz de nos convencer que será um mercado interessante”, afirmou Lorenço Coelho, vice-presidente de marketing e estratégica para América Latina e Caribe da Ericsson.
Mauricio Higa, gerente de marketing para redes móveis da Huawei no Brasil afirmou que a empresa fabrica os aparelhos e os vende para a Vodafone, além de outras operadoras que atuam em mercados asiáticos, incluindo a China. Segundo ele, a femtocell ainda não decolou. “A tendência mundial é trabalhar com Wi-Fi; não vejo mercado em grande escala”, disse o executivo, sem revelar quantas unidades a Huawei vendeu até o momento.
Segundo defensores da femtocell, parte do desinteresse dos fabricantes pelos aparelhos decorre do fato de que, para eles, é mais interessante vender infraestrutura para as antenas de celular.
No lado oposto, um dos empecilhos citados é o de que as femtocells poderiam causar interferência entre as redes envolvidas, deixando o usuário sem comunicação. “É melhor investir em redes Wi-Fi, pois os usuários já estão acostumados e é mais simples”, disse Janilson Bezerra, diretor de inovação da TIM. A operadora ainda não possui uma rede de banda larga fixa, para a qual as femtocells desviam o tráfego das redes móveis.
Entre as demais operadoras – Vivo, Oi e Claro, o entusiasmo é grande. A Claro informou, em nota, que é possível garantir que não haverá interferência entre as antenas e as femtocells, pois a operadora é responsável pela gestão das redes. A companhia planeja iniciar sua operação de femtocell com um aparelho instalado no Pão de Açúcar, no Rio.
Para Leonardo Capdeville, diretor de planejamento e tecnologia da Telefônica/Vivo, o aparelho seria um item importante no portfólio da empresa. A Oi, em nota, informou que vem realizando testes e considera o uso dos aparelhos uma forma de desafogar a rede.
Fonte:Valor